História
Anterior à construção de Belo Horizonte, a região conhecida como Lagoinha já existia de forma ativa. A origem do nome Lagoinha fazia referência às áreas alagadiças e pequenas lagoas que se formavam no entorno do Córrego da Lagoinha, afluente do Ribeirão Arrudas que corta a região. Sua posição e características geográficas constituíam um elemento de fundamental importância no desenvolvimento desta região, notadamente a atual rua Itapecerica que ligava o arraial do Curral Del Rei à estrada para Venda Nova”.
Com a inauguração de Belo Horizonte, este trecho passou a ser ocupado principalmente pelos imigrantes devido às dificuldades de instalação dos mesmos na Zona Urbana. Aliado à implantação do Cemitério do Bonfim, a região teve um forte crescimento no início do século XX, com significativa atividade comercial na Praça Vaz de Melo que, juntamente com as ruas Bonfim, Além Paraíba e Itapecerica, constituíam os principais eixos dos bairros. Nesse sentido, operários, arquitetos, engenheiros, artistas, marmoristas e comerciantes que vieram para a construção de Belo Horizonte, formaram a população dessa região, composta majoritariamente por imigrantes de origem italiana, conferindo uma identidade própria ao local, mas não completamente distinta de outros bairros da capital mineira.
A inauguração do ramal férreo nas décadas de 1910 e 1920 favoreceu o surgimento de estabelecimentos comerciais diversificados, concentrados em sua maioria na Praça Vaz de Melo e na Rua Itapecerica. A região tornouse também local de lazer, de sociabilidade, de encontro, da música, dos botecos, da malandragem, dos laços familiares e de vizinhança. Embora localizada na zona suburbana, a Lagoinha estava perto e integrada não só fisicamente como também no cotidiano e no imaginário da zona urbana.
A Praça Vaz de Melo, porta de entrada da Lagoinha, era descrita como um local repleto de bares, clubes e motéis, onde o chorinho e o samba se misturavam com as vozes das conversas altas e das risadas. Segundo uma série de estudiosos da cidade, a destruição da Praça Vaz de Melo levou embora toda essa característica da região, não sendo substituída por nenhum outro local em Belo Horizonte. Se a prostituição, a boemia e a violência passaram a ser um estigma e motivo de preconceito para a região, por outro lado, outras instituições fundadas ainda nas primeiras décadas do século XX se tornaram referência cultural para os moradores, dando outro sentido para a região. Dentre eles, destacam-se o Grupo Escolar Silviano Brandão e o Santuário Arquidiocesano Nossa Senhora da Conceição.
Nos anos 1940, principalmente durante o governo de Juscelino Kubitschek, Belo Horizonte passou por um intenso processo de modernização, com a implementação de diversas obras que ampliaram a infraestrutura da cidade. Com a construção do conjunto arquitetônico da Pampulha, houve a necessidade da expansão das linhas dos bondes e a consequente ampliação das vias e avenidas que ligavam o centro à região da Pampulha. Sendo assim, foi aberta a Avenida Presidente Antônio Carlos e outras vias importantes que passavam pela região da Lagoinha. Ainda nos anos 1940, foi apresentado o projeto do Conjunto IAPI, através de um contrato entre a Prefeitura, o Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Industriários (IAPI) e a Companhia Auxiliar de Serviços de Administração (CASA). Esse conjunto habitacional veio substituir os projetos de vilas operárias implementadas em Belo Horizonte nas primeiras décadas do século XX, passando a ser denominado por Bairro Popular.
A partir da década de 1930 com a canalização e pavimentação dos córregos onde seriam construídas as avenidas Dom Pedro II e Presidente Antônio Carlos, que entre o final dos anos de 1970 e início dos anos 1980 culminaria com a construção do Complexo Viário da Lagoinha, não só os córregos foram cobertos e desapareceram como também a Praça Vaz de Melo. Tais mudanças trazidas pela abertura das avenidas Dom Pedro II e Presidente Antônio Carlos (nos locais onde corriam os córregos do Pastinho e da Lagoinha), como a supressão da Praça Vaz de Melo, a introdução de atividades comerciais de maior porte e o isolamento da porção leste da Lagoinha do restante do bairro.
A complexidade da Lagoinha está não só nas formas e estilos das edificações, mas também nas formas de ocupação, na sociabilidade estabelecida por décadas e gerações, nos lugares da memória, nas formas de morar, de viver, de trabalhar, nos trajetos, nos costumes, na forma de integração com outras regiões da cidade, no sentimento de pertencimento, ao mesmo tempo em que as vivências geram identificação pessoal e críticas à relação com a administração pública, também nas questões que envolvem renovação e preservação